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Contributo da

cruz vermelha para

um retrato da saúde mental de vila nova de gaia

O Rastreio da Saúde Mental CVP-VNG (2018)

 

Randdy Ferreira & Marina Moreira (Coords)

Alexandra Mota, Ana C. Oliveira, Ana Oliveira, Ana Reis, Ana Rita Vasconcelos, Andreia Magalhães, ​Ariel Milton, Catarina Pereira, Clara Oliveira, Diana Pereira, Filipe maia, Jéssica Monteiro, Maria Moreira, Priscila Rodrigues, Sara Gomes, Sofia Matias & Sónia Silva

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Resumo

Vila Nova de Gaia (VNG) é o terceiro município mais populoso do país, com cerca de 300 000 habitantes. A política de desenvolvimento social do município menciona a saúde mental como uma prioridade, contudo as respostas nesta área são ainda escassas, pelo que, é fundamental promover o acesso aos serviços. No âmbito da sua missão, a Cruz Vermelha Portuguesa - Vila Nova de Gaia (CVP-VNG) foi ao encontro da saúde mental da comunidade, com o objetivo de facilitar à população o acesso a um serviço especializado em ajudar pessoas que passaram por experiências adversas, muitas vezes traumáticas. Através de um programa de rastreio - Programa de Rastreio da Saúde Mental CVP-VNG (2018) -, foram entrevistadas 662 pessoas, entre os 18 – 95 anos de idade. Os dados recolhidos centraram-se nas seguintes dimensões: a) saúde mental, b) suporte social e c) sintomas traumáticos/ Perturbação de Stress Pós-Traumático (PTSD). Os resultados não sugerem diferenças entre as freguesias de VNG. Globalmente, 28% das pessoas apresentam possíveis problemas de saúde mental, 36% refere já ter sido exposta a um acontecimento potencialmente traumático e 7,9% evidencia provável PTSD. Os resultados do programa podem ser um contributo importante para um retrato da saúde mental em VNG, por se tratar da primeira iniciativa do género, que procurou não só facilitar o acesso a um serviço de saúde mental especializado, bem como conhecer a prevalência da exposição a acontecimentos que se podem revelar traumáticos e sintomas associados. Com base nos resultados, são feitas ainda algumas recomendações: desenvolver uma perpetiva global da saúde mental no concelho; atender em especial a alguns grupos (ex., género feminino, grupo etário 80-89 anos de idade, pessoas com menos de 4 anos de escolaridade); ou promover fatores protectores (suporte social). Contudo, porque não é uma amostra representativa da população, importa ter algum cuidado na generalização destes resultados, conclusões e recomendações.

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Freguesias

Arcozelo; Avintes; Canelas; Canidelo; Grijó e Sermonde; Gulpilhares e Valadares; Madalena; Mafamude e Vilar do Paraíso; Oliveira do Douro; Pedroso e Seixezelo; Sandim, Olival, Lever e Crestuma; Santa Marinha e São Pedro da Afurada; São Félix da Marinha; Serezedo e Perosinho; e Vilar de Andorinho​.

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Informação Recolhida

 

 

 

 

 

 

Resultados

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SAÚDE MENTAL:

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  • Cerca de 28% dos participantes apresentam possíveis problemas de saúde mental;

  • Entre as freguesias não se observam diferenças significativas;;

  • ​As mulheres evidenciam mais problemas de saúde mental, por comparação com os homens;​

  • Os participantes entre os 80 – 89 anos de idade revelam mais problemas de saúde mental​; no último mês, este grupo etário sentiu-se mais vezes “triste e em baixo” do que outros grupos (20 – 49 anos) â€‹e, também no último mês, sentiu-se menos “feliz” do que o grupo 50 – 69 anos;

  • ​Os participantes com menos de 4 anos de escolaridade têm mais problemas de saúde mental, quando comparados com os que têm 10-12 anos de escolaridade ou nível de formação superior.

  • ​Exercer uma profissão está associado a valores mais elevados no indicador de saúde mental, por comparação com a condição outra (ex., baixa médica ou pensão por invalidez); ​no último mês, quem exercia uma profissão estava menos vezes “triste e em baixo”, comparado com: desempregado, ocupa-se das tarefas do lar ou outra condição (ex., baixa médica ou pensão por invalidez);
  • ​Os participantes que referem problemas de saúde ​física e toma regular de medicação evidenciam mais problemas de saúde mental, do que os participantes que não referem estas questões.

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​SUPORTE SOCIAL:

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  • Entre as freguesias não se verificam diferenças significativas;

  • Participantes com nível de suporte social moderado 48%,  fraco 21% e forte 31%;

  • Não se observam diferenças de género, idade e condição perante o trabalho;

  • ​Quem tem menos de 4 anos de escolaridade tem menos suporte social, do que quem tem 10 -12 anos de escolaridade ou formação superior;

  • ​Não varia de acordo com a condição perante o trabalho;
  • ​Quem identifica problemas de saúde física refere menos suporte social, ​mas quem toma medicação não.

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SINTOMAS TRAUMÁTICOS / PERTURBAÇÃO DE STRESS PÓS-TRAUMÁTICO (PTSD):

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  • As freguesias não se diferenciam entre si quanto à exposição a acontecimentos potencialmente traumáticos;

  • Aproximadamente, 36% dos participantes refere já ter sido exposto a um acontecimento potencialmente traumático (ex., acidente ou incêndio grave, agressão ou abuso físico ou sexual, terramoto ou cheias, guerra, testemunhar alguém ser morte ou ficar gravemente ferido, saber do homicídio ou suicídio de um ente querido);

  • ​Não há diferenças de exposição a estes acontecimentos quando considerado o género, ​o grupo etário, ​a escolaridade​ ou a condição perante o trabalho;

  • ​Os que referem problemas de saúde física diferenciam-se dos que não apresentam estes problemas, revelando maior exposição a acontecimentos traumáticos, ​mas não há diferenças nos que tomam medicação versus não tomam medicação;

  • ​Percentagem de participantes com provável PTSD: 7,9%;

  • Quanto maior é a sintomatologia traumática/ PTSD, menor é a saúde mental e o suporte social.

  • ​As freguesias não se diferenciam relativamente ao nível dos sintomas traumáticos/ PTSD;

  • ​As mulheres apresentam mais sintomas de traumáticos/ PTSD, por comparação com os homens;
  • ​As pessoas idosas (≥65 anos) apresentam menos sintomas que os mais jovens.

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Conclusões: 

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O Programa de Rastreio da Saúde Mental CVP-VNG (2018) pode dar um contributo importante para um Retrato da Saúde Mental de VNG, por se tratar da primeira iniciativa no concelho.

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Em jeito de hipótese, é possível olhar para a saúde mental de VNG globalmente, já que em nenhuma das análises foram encontradas diferenças entre as freguesias, incluindo na maior ou menor prevalência de acontecimentos que se podem revelar traumáticos ou, eventualmente, nos sintomas posteriores que se possam desenvolver.

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Segundo estes resultados, a percentagem de participantes com possíveis problemas de saúde mental (28%) é superior a dados conhecidos da população portuguesa. Contudo, estes problemas não remetem necessariamente para um diagnóstico clínico.

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Num estudo anterior, levado a cabo pela CVP-VNG em três freguesias de VNG, mais de metade dos participantes (57,8%) referiam já ter vivenciado, pelo menos, um acontecimento traumático ao longo da vida. Quando a pergunta é formulada com base na apreciação subjetiva de quem responde (“ao longo da sua vida alguma vez vivenciou um acontecimento traumático?”) a percentagem parece, assim, ser maior, por comparação com a utilização de critérios mais objetivos (que incluam exemplos), como os que se encontram no PC-PTSD-5. De qualquer modo, os cerca de 36% de participantes que referem já ter sido expostos a um acontecimento potencialmente traumático neste rastreio não deixam de representar uma percentagem significativa.

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O suporte social é um dos fatores de risco/ protetores mais importantes associados quer à saúde mental em geral, quer a sintomatologia traumática, em especial PTSD. Conforme esperado, quanto menor o suporte, maior o nível de sintomas e menor o indicador genérico de saúde mental.

 

A taxa de prevalência de provável PTSD neste rastreio é, curiosamente, igual à da população portuguesa. As diferenças de género encontradas vão ao encontro da investigação neste campo, que aponta para explicações desde biológicas a culturais. Quando comparamos os mais velhos com os mais jovens, aparentemente, as pessoas idosas (≥ 65 anos) com história de trauma são mais resilientes do que os mais novos.

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Recomendações:

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  • Desenvolver intervenções na área da saúde mental que sejam globais, tomando VNG como um todo;

  • Promover a literacia em torno de condições médicas, como a hipertensão ou a diabetes;

  • Ajustar e utilizar métodos, bem como instrumentos de avaliação e intervenções, que atendam às diferenças de género;

  • Dar particular atenção ao grupo etário 80 – 89 anos de idade, sobretudo ao nível da depressão e ansiedade;

  • Desenvolver medidas específicas de prevenção, promoção e, se necessário tratamento, para o grupo de pessoas com menos 4 anos de escolaridade;

  • Continuar com medidas de apoio e promoção de emprego na comunidade;

  • Realizar rastreios de saúde mental nos Centros de Saúde, com o objetivo de identificar casos relacionados com exposição a acontecimentos traumáticos e sintomatologia associada;

  • Promover o suporte social enquanto fator protector (em especial, junto das pessoas com problemas de saúde física).

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Dado que o objetivo do Rastreio da Saúde Mental CVP-VNG (2018) foi facilitar à população o acesso a um serviço de saúde mental especializado em ajudar pessoas que passaram por experiências adversas, os participantes não constituem uma amostra representativa de VNG, pelo que, importa ter algum cuidado na generalização dos resultados, conclusões e recomendações.

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